No domingo (27), a 8ª
Aldeia Sesc Guajajara de Artes exibiu espetáculos infantis e montagens
contemporâneas nos principais teatros. Na Praça Nauro Machado houve show de
grupos de choro.
O
Centro Histórico de São Luís ganhou no domingo passado (27) uma atmosfera
poética por conta da programação da 8ª Aldeia Sesc Guajajara de Artes.
Espetáculos infantis, peças teatrais e apresentações musicais atraíram para os
principais teatros e Praça Nauro Machado um público desejoso por cultura e
arte.
Na
Sala de Coro do Teatro Arthur Azevedo, a Cia. Gente Falante, do Rio Grande do
Sul, ofereceu momento de pura delicadeza no final da tarde com o espetáculo
infantil “Louça Cinderella”, uma adaptação da conhecida estória da Gata
Borralheira, escrita no século XIX pelos Irmãos Grimm e Charles Perraut, e
convertida em teatro narrativo com objetos.
O
ator-manipulador Paulo Martins começa dizendo: “Ninguém está só para sempre.
Valorize os momentos de encontro”. Usando uma pequena mesa como palco, ele
convida a todos a entrar na fantasia do faz-de-conta ativando a memória e a
ludicidade de adultos e crianças. Xícaras, bules, louças e outras porcelanas
vão servindo de personagens na contação da história. Depois do final feliz,
todos são servidos com chá de pêssego e deliciosos biscoitos.
“Louça
Cinderella” vai além de ser um simples conto de fadas. O texto fala de
encontros entre pessoas, diferenças sociais, a importância de valorizar o
conteúdo das pessoas além das aparências, das pequenas delicadezas afetivas,
sintetizado na metáfora do hábito cordial britânico de oferecer o Chá das
Cinco.
Paulo
explicou que a ideia para o espetáculo veio a partir das memórias de sua avó.
Uma mulher inglesa que casou com um negro africano para sair de casa. O casal
foi morar na Bahia e por muito tempo ela não conseguia demonstrar afeto entre
os familiares. Transformar o Chá das Cinco em hábito cotidiano e generoso foi a
maneira que ela encontrou de se aproximar dos seus afetos.
No
Teatro de Bonecos o ator é também um tipo de poeta e dramaturgo. Os espetáculos
são criados a partir da memória e experiência pessoal de cada um. E a memória
individual do manipulador vai tocando nas memórias coletivas do público. Este
tipo de gênero teatral trabalha com metáforas que fazem pensar, educar e
sensibilizar a plateia, com uma nova linguagem na forma de fazer teatro. Os
atores estão sempre à vista e são, na maioria das vezes, autores das suas
próprias histórias.
Há
22 anos a Cia. Gente Falante pratica este tipo de teatro no Brasil. O gênero já
possui tradição na Europa, tendo iniciado no começo da década de 1980, na
França, a partir de trabalhos desenvolvidos pela artista Katy Deville. Ele não
possui uma teoria, mas diversas visões cenográficas e teatrais. Em junho deste
ano, aconteceu em Florianópolis o Festival Internacional de Teatro de Objetos.
No
final, a mensagem que permanece é a reflexão sobre as coisas cotidianas e um
exercício em ver outras coisas através dos objetos, tocando na intimidade de
cada espectador. Um tipo de espetáculo que exige calmaria em tempos de pressa e
racionalidade.
Velhos Caem do Céu
como Canivetes
No
espaço da Pequena Companhia de Teatro, às 20h, o encontro inusitado entre uma
criatura alada e um homem miserável tornou-se o epílogo de uma história sobre
exílio, fé e esperança de salvação. O homem questiona-se se está diante de um
anjo. O anjo desconhece o homem por suas sujeiras e miserabilidade. Eles se
tocam e procuram reconhecer-se um no outro. O homem enaltece a figura alada.
Acredita que ele poderia se tornar alguém importante, que poderia instaurar uma
nova ordem, uma boa nova. O anjo calcula os dias e anseia pelo momento
em que poderá retornar do exílio.
Há
um jogo de palavras no discurso entre os dois opostos. O homem gosta de ler e
usar palavras bonitas. O ser alado solta expressões em língua desconhecida,
busca identificações no espaço do quintal do homem. Entre os dois há a sombra
da fome, a necessidade de sobreviver. Entre a esperança de um e a resignação do
outro há uma disputa. Fica a dúvida sobre quem encerrou seus destinos.
Na
programação da Aldeia Sesc, o grupo, formado pelos atores Jorge Choairy,
Cláudio Marconcine, e pelo diretor Marcelo Flecha, vai oferecer na cidade de
Caxias uma oficina de teatro, no dia 07 de novembro, na Sala de Cultura
Martinha Cruz. No mesmo espaço haverá apresentação do espetáculo nos dias 06
(com duas sessões, 19h30 e 20h30) e 07 de novembro (às 20h30).
A
noite foi do choro e da música brasileira na Praça Nauro Machado, a partir das
19h, com os shows do violonista João Pedro Borges e a cantora Célia Maria e o
encontro inédito dos grupos Instrumental Pixinguinha e Regional Tira-Teima.
A
apresentação foi uma reedição do “Recital de Música Brasileira”, projeto
realizado há dez anos no Teatro Arthur Azevedo com a apresentação da dupla e um
grupo regional de choro.
O
encontro entre João Pedro Borges e Célia Maria foi dividido em duas partes. No
primeiro momento, o violonista apresentou clássicos da canção instrumental
brasileira, como Choro Nº 1 (Heitor Villa-Lobos), Tenebroso (Ernesto Nazareth),
Interrogando (João Pernambuco) e Choro Triste Nº1 (Garoto). Depois, foi a vez
de chamar ao palco a cantora Célia Maria para interpretar canções de grandes
compositores da música popular brasileira. Parcerias de Chico Buarque com Tom
Jobim (Olha Maria, Piano na Mangueira e Tema de Amor de Gabriela), com João
Bosco (Sinhá), com Cristóvão Bastos (Todo Sentimento) e de próprio punho (Velho
Francisco), além de canção de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira (Azulão) e
composição de João Pedro Borges (Porto Errante).
Depois
foi a vez do time de dez bons músicos de choro comprovar, com muito improviso,
técnica e qualidade, porque o gênero é um dos mais valorizados entres os
amantes da música popular. O momento foi de descontração. O cavaquinhista Juca
do Cavaco falou que não houve ensaio e, por conta disso, o repertório foi
alterado minutos antes do show. Cheios de ginga e malandragem os senhores da
música instrumental fizeram um espetáculo grandioso, agradando aos mais
afinados ouvidos musicais. No repertório, choros de compositores como Waldir
Azevedo (Pedacinhos do Céu e Delicado), Jacob do Bandolim (Benzinho e Doce de
Coco), Naquele Tempo, Paciente, Cochichando e Proezas de Solon (Pixinguinha),
entre outros. Na despedida, ainda coube uma homenagem musical ao clube de
futebol Sampaio Corrêa pela conquista na Série B do Campeonato Brasileiro, no
sábado (26), com os artilheiros do choro executando com maestria o hino do
time.
8ª
Aldeia Sesc
A 8ª Aldeia Guajajara de Artes segue até o dia 1º de
novembro, em São Luís. Nas cidades de Itapecuru e Caxias, a programação
acontece de 03 a 09 de novembro, com oficinas, espetáculos teatrais e shows. A
mostra é gratuita, mas o público pode colaborar com o Programa Mesa Brasil do
Sesc, que complementa milhares de refeições de crianças e adolescentes de São
Luís e Caxias, doando 1 kg de alimento não-perecível nas bilheterias dos
teatros.
O objetivo do evento é difundir a cultura brasileira e o
talento da produção local nas mais diversas linguagens, trazendo espetáculos de
circulação nacional e promover a formação de plateia. Este ano o evento passou
a se chamar Aldeia, que são as mostras de arte e cultura organizadas pelos Departamentos
Regionais do Sesc visando fortalecer os laços comunitários de artistas,
espectadores e produtores, buscando inovar e diversificar o circuito cultural
brasileiro.
Programação
completa e mais informações
Email: aldeiasescguajajaradeartes@gmail.com
(98) 3216 3800 / (98) 3216 3886 / (98)88711079