Na segunda (28), a 8ª Aldeia Sesc
Guajajara de Artes contou com cordel, artes cênicas, filmes e espetáculos de
dança.
Ao final da tarde de segunda, na Praça Nauro
Machado, foi anunciada a morte de Lampião. “Um cabra de Lampião / por nome
Pilão Deitado / que morreu numa trincheira / em certo tempo passado / agora
pelo sertão / anda correndo visão / fazendo mal-assombrado”. O corpo do velho
cangaceiro ia sendo carregado numa rede por um grupo cantando ladainhas
fúnebres. Aos poucos, todos iam parando para ver o que acontecia. Em
rimas de cordel vão narrando a chegada de Lampião às portas do Céu.
Era a apresentação da Trupe BemDito Coletivo que tem como proposta levar as tradições populares do sertão brasileiro para a rua, praças, escolas ou salas de teatro. O espetáculo “A Chegada de Lampião ao Inferno” chamou a atenção de Carlos Silva, 16 anos. “Eu estava de passagem e resolvi parar porque gosto de cordel, meu avô gostava de contar histórias pra gente dessa maneira, com versos”, disse.
Era a apresentação da Trupe BemDito Coletivo que tem como proposta levar as tradições populares do sertão brasileiro para a rua, praças, escolas ou salas de teatro. O espetáculo “A Chegada de Lampião ao Inferno” chamou a atenção de Carlos Silva, 16 anos. “Eu estava de passagem e resolvi parar porque gosto de cordel, meu avô gostava de contar histórias pra gente dessa maneira, com versos”, disse.
Os versos continuam. Lampião é rejeitado por São Pedro e vai
parar na porta do inferno. “O inferno nesse dia / faltou pouco para virar /
incensiou-se o mercado / morreu tanto cão queimado / que faz até pena contar”,
declamam os atores.
A narrativa é um cordel escrito pelo pernambucano José Pacheco
da Rocha. Na peça, os atores Layo Bulhão (Diabo), Edinaldo Jr. (Diabo e Diaba
Moça), Paulo Roberto Aguiar (Lampião e Maria Bonita) e Rafael Feitosa (vigia do
Inferno e padre) se revezam entre os narradores e personagens. Todo o figurino
usado no espetáculo foi produzido pelos próprios, que tocam pandeiro, triângulo
e caixa como recurso de sonoplastia .
Leituras em Cena
Como parte do Projeto Dramaturgia, idealizado pelo Departamento
Nacional do Sesc, quatro grupos de teatro fizeram a leitura dramática de três
autores contemporâneos, os maranhense Zen Salles e Aci Campelo e o amazonense
Francisco Carlos.
No projeto, não há uma montagem ou atuação completa da obra. Os
atores sobem ao palco e leem o texto. O que se ressalta na leitura são as
potencialidades cênicas que a narrativa dramatúrgica tem. E cada espectador vai
se sentido como co-diretor, simulando imagens de como o texto poderia ser
encenado.
Em “Pororoca”, de Zen Salles, histórias fantásticas em torno do
Rio Mearim falavam sobre personagens e ribeirinhos que vivem suas vidas em
torno das lendas criadas pelo fenômeno raro da invasão das águas do mar sobre o
rio. O texto descreve crendices, hábitos e pessoas que são atraídas pelo
fenômeno como Siba, o pescador de surubim que vê a visagem da mulher do rio, a
velha Jacy, uma índia que perdeu a sombra, o surfista, que busca as ondas e
deixa grávidas meninas da região.
O linguajar reforça características do sotaque maranhense e o
texto é cheio de expressões despudoradas, como se a força da onda gigante das
águas atraísse as tensões sexuais e despertasse o fluxo dos desejos dos
personagens, tendo o Rio Mearim representando a linha do destino de cada um
deles, oferecendo as principais condições de sobrevivência e também cobrando de
volta o que tiram dele sem permissão.
Além de “Pororoca”, receberam leituras dramatizadas os textos
“Os Salvados”, de Aci Campelo, com direção de Ivaldo Cantanhede; “Banquete
Tupinambá”, de Francisco Carlos, com direção de Luiz Pazzini; e “Agridoce”, de
Zen Salles, com direção de Luis Pazzini e Cássia Pires, respectivamente.
Cinema
“Medianeiras”, filme argentino do diretor Gustavo Taretto, abriu
a programação da Mostra CineMundi, dentro da Aldeia Sesc, no Cine Praia Grande,
às 18h.
O filme inicia descrevendo imagens e prédios, janelas, os
diferentes estilos arquitetônicos, o crescimento desordenado de edifícios e a
solidão dos moradores isolados em apartamentos. O isolamento gera transtornos,
como o do personagem Martin, que sofre síndrome de pânico, e Mariana, que se
torna claustrofóbica. Os dois conduzem a narrativa e os espectadores vão
acompanhando a rotina deles, moradores do mesmo edifício, mas que não se
conhecem.
Buenos Aires pode ser considerada a terceira protagonista do
filme na relação do modo de vida de cada pessoa com a arquitetura e estrutura
caótica de uma grande cidade. O isolamento, os desencontros, a falta de afeto e
vínculo amoroso estão nas grandes capitais cosmopolitas como características
dos nossos tempos.
Na sequência, 20h, foi exibido o filme “Pina”, documentário
dirigido por Wim Wenders que homenageia a bailarina Pina Bausch. Filmado em 3D,
a película faz o expectador ter a sensação de estar em uma sala de teatro ou de
dança, perto dos atores e bailarinos.
Além da bailarina, a arte da dança é a grande história
apresentada no filme. Coreografias que comunicam experiências subjetivas, a
sensação de liberdade, repetição, inquietações e angústias do homem moderno. Os
bailarinos viram atores em imagens de gratidão, perda e no reconhecimento da
experiência de aprendizagem com Pina.
O filme consegue explorar ao máximo a linguagem da dança como
expressão não verbal, mas pela via das emoções e movimentos. Na história da
arte contemporânea, Pina deixou sua marca artística, estética e filosófica,
rompendo com as formas tradicionais da dança-teatro, com coreografias baseadas
nas experiências de vida dos seus bailarinos.
Até a sexta-feira (1º), serão exibidos filmes de nacionalidades
diferentes que trazem olhares contemporâneos sobre o amor e o fazer
cinematográfico ao redor do mundo. O filme maranhense “Luíses – Solrealismo
maranhense” encerra a mostra.
O corpo como obra de arte
No palco do Teatro João do Vale, a Cia Pulsar apresentou o
espetáculo de dança “Quinze”, com fragmentos de coreografias desenvolvidas ao
longo dos 15 anos de existência da companhia.
No primeiro momento, ao som de uma sinfonia, os bailarinos vão
executando movimentos que crescem junto com o andamento da música. Corpos que
exibem músculos e delicadezas como se estivessem no Olimpo grego. Coreografias
sincronizadas que depois se dispersam em solos improvisados de cada bailarino.
Segundo momento. Ouve-se a voz do ator Auro Juriciê narrando um
texto poético. “O vazio não está vazio. Não somos livres. Somos cárceres do
desejo. Prisioneiros de si mesmo. O homem está condenado a viver em cárcere”.
Aos poucos os bailarinos iniciam movimentos inquietos, com corpos que se
esbarram, outros que tentam se tocar, alguns que rastreiam com os pés o melhor
terreno, com desconfiança, outros que, por fim, se libertam ao prazer do desejo
e a intensidade do afeto.
Terceiro momento. Ouve-se o texto, “a liberdade da mariposa fica
presa à luz”. Som de trânsito e de acidente. Um corpo é carregado. A
coreografia revela tensões, pressa, conflitos. A luta provocada pela raiva,
pela perda. Dois bailarinos simulam a dança entre dois manequins. Metáfora da
marionete humana. Somos conduzidos pela vontade do outro.
Quarto momento. Som de máquina de datilografia. Três casais no
palco. Os movimentos descrevem a escrita de três relações com coreografias que
expressam a atração intensa e repulsão, os desejos humanos. Ouve-se ao piano
“Clair de Lune”, de Debussy. Os movimentos vão diminuindo. Sensações como solidão,
separação, submissão, apego e vontade do outro. A tentativa da reconciliação. A
passionalidade dos afetos.
Após a apresentação da Cia. Pulsar, o público se depara com dois
corpos nus no hall de entrada do teatro. Deitados e dispostos em direção
contrária, como se simbolizassem a oposição masculino x feminino, os arquétipos
de gênero que se complementam, seus corpos tornaram-se o caderno de assinaturas
do público. Timidamente, as pessoas assinavam nomes e outras palavras. Os
corpos dos dois performers da Companhia Núcleo Atmosfera de Dança e Teatro
foram aos poucos se tornando suporte de mensagens das necessidades subjetivas
de cada um. Entre nomes e frases, as palavras “amor”, “poesia”, “arte” e
“atitude”, grafadas nos corpos dos dois, pareciam revelar as urgências
coletivas de todos nós.
8ª Aldeia Sesc
A 8ª Aldeia Guajajara de Artes segue até o dia 1º de novembro,
em São Luís. Nas cidades de Itapecuru e Caxias, a programação acontece de 03 a
09 de novembro, com oficinas, espetáculos teatrais e shows. A mostra é
gratuita, mas o público pode colaborar com o Programa Mesa Brasil do Sesc, que
complementa milhares de refeições de crianças e adolescentes de São Luís e
Caxias, doando 1 kg de alimento não-perecível nas bilheterias dos teatros.
O objetivo do evento é difundir a cultura brasileira e o talento
da produção local nas mais diversas linguagens, trazendo espetáculos de
circulação nacional e promover a formação de plateia. Este ano o evento passou
a se chamar Aldeia, que são as mostras de arte e cultura organizadas pelos
Departamentos Regionais do Sesc visando fortalecer os laços comunitários de
artistas, espectadores e produtores, buscando inovar e diversificar o circuito
cultural brasileiro.
Programação completa e mais informações
(98) 3216 3800 / (98) 3216 3886 / (98)88711079