12 de nov. de 2013

Aldeia Sesc oferece segunda com arte em quatro linguagens

Na segunda (28), a 8ª Aldeia Sesc Guajajara de Artes contou com cordel, artes cênicas, filmes e espetáculos de dança.


Ao final da tarde de segunda, na Praça Nauro Machado, foi anunciada a morte de Lampião. “Um cabra de Lampião / por nome Pilão Deitado / que morreu numa trincheira / em certo tempo passado / agora pelo sertão / anda correndo visão / fazendo mal-assombrado”. O corpo do velho cangaceiro ia sendo carregado numa rede por um grupo cantando ladainhas fúnebres. Aos poucos, todos iam parando para ver o que acontecia.  Em rimas de cordel vão narrando a chegada de Lampião às portas do Céu. 

Era a apresentação da Trupe BemDito Coletivo que tem como proposta levar as tradições populares do sertão brasileiro para a rua, praças, escolas ou salas de teatro. O espetáculo “A Chegada de Lampião ao Inferno” chamou a atenção de Carlos Silva, 16 anos. “Eu estava de passagem e resolvi parar porque gosto de cordel, meu avô gostava de contar histórias pra gente dessa maneira, com versos”, disse. 

Os versos continuam. Lampião é rejeitado por São Pedro e vai parar na porta do inferno. “O inferno nesse dia / faltou pouco para virar / incensiou-se o mercado / morreu tanto cão queimado / que faz até pena contar”, declamam os atores. 

A narrativa é um cordel escrito pelo pernambucano José Pacheco da Rocha. Na peça, os atores Layo Bulhão (Diabo), Edinaldo Jr. (Diabo e Diaba Moça), Paulo Roberto Aguiar (Lampião e Maria Bonita) e Rafael Feitosa (vigia do Inferno e padre) se revezam entre os narradores e personagens. Todo o figurino usado no espetáculo foi produzido pelos próprios, que tocam pandeiro, triângulo e caixa como recurso de sonoplastia .    


Leituras em Cena

Como parte do Projeto Dramaturgia, idealizado pelo Departamento Nacional do Sesc, quatro grupos de teatro fizeram a leitura dramática de três autores contemporâneos, os maranhense Zen Salles e Aci Campelo e o amazonense Francisco Carlos. 
No projeto, não há uma montagem ou atuação completa da obra. Os atores sobem ao palco e leem o texto. O que se ressalta na leitura são as potencialidades cênicas que a narrativa dramatúrgica tem. E cada espectador vai se sentido como co-diretor, simulando imagens de como o texto poderia ser encenado. 


                            

Em “Pororoca”, de Zen Salles, histórias fantásticas em torno do Rio Mearim falavam sobre personagens e ribeirinhos que vivem suas vidas em torno das lendas criadas pelo fenômeno raro da invasão das águas do mar sobre o rio. O texto descreve crendices, hábitos e pessoas que são atraídas pelo fenômeno como Siba, o pescador de surubim que vê a visagem da mulher do rio, a velha Jacy, uma índia que perdeu a sombra, o surfista, que busca as ondas e deixa grávidas meninas da região. 
O linguajar reforça características do sotaque maranhense e o texto é cheio de expressões despudoradas, como se a força da onda gigante das águas atraísse as tensões sexuais e despertasse o fluxo dos desejos dos personagens, tendo o Rio Mearim representando a linha do destino de cada um deles, oferecendo as principais condições de sobrevivência e também cobrando de volta o que tiram dele sem permissão.
Além de “Pororoca”, receberam leituras dramatizadas os textos “Os Salvados”, de Aci Campelo, com direção de Ivaldo Cantanhede; “Banquete Tupinambá”, de Francisco Carlos, com direção de Luiz Pazzini; e “Agridoce”, de Zen Salles, com direção de Luis Pazzini e Cássia Pires, respectivamente.




Cinema

“Medianeiras”, filme argentino do diretor Gustavo Taretto, abriu a programação da Mostra CineMundi, dentro da Aldeia Sesc, no Cine Praia Grande, às 18h.

O filme inicia descrevendo imagens e prédios, janelas, os diferentes estilos arquitetônicos, o crescimento desordenado de edifícios e a solidão dos moradores isolados em apartamentos. O isolamento gera transtornos, como o do personagem Martin, que sofre síndrome de pânico, e Mariana, que se torna claustrofóbica. Os dois conduzem a narrativa e os espectadores vão acompanhando a rotina deles, moradores do mesmo edifício, mas que não se conhecem.
Buenos Aires pode ser considerada a terceira protagonista do filme na relação do modo de vida de cada pessoa com a arquitetura e estrutura caótica de uma grande cidade. O isolamento, os desencontros, a falta de afeto e vínculo amoroso estão nas grandes capitais cosmopolitas como características dos nossos tempos.

Na sequência, 20h, foi exibido o filme “Pina”, documentário dirigido por Wim Wenders que homenageia a bailarina Pina Bausch. Filmado em 3D, a película faz o expectador ter a sensação de estar em uma sala de teatro ou de dança, perto dos atores e bailarinos.
Além da bailarina, a arte da dança é a grande história apresentada no filme. Coreografias que comunicam experiências subjetivas, a sensação de liberdade, repetição, inquietações e angústias do homem moderno. Os bailarinos viram atores em imagens de gratidão, perda e no reconhecimento da experiência de aprendizagem com Pina.

O filme consegue explorar ao máximo a linguagem da dança como expressão não verbal, mas pela via das emoções e movimentos. Na história da arte contemporânea, Pina deixou sua marca artística, estética e filosófica, rompendo com as formas tradicionais da dança-teatro, com coreografias baseadas nas experiências de vida dos seus bailarinos.
Até a sexta-feira (1º), serão exibidos filmes de nacionalidades diferentes que trazem olhares contemporâneos sobre o amor e o fazer cinematográfico ao redor do mundo. O filme maranhense “Luíses – Solrealismo maranhense” encerra a mostra.


O corpo como obra de arte

No palco do Teatro João do Vale, a Cia Pulsar apresentou o espetáculo de dança “Quinze”, com fragmentos de coreografias desenvolvidas ao longo dos 15 anos de existência da companhia.

No primeiro momento, ao som de uma sinfonia, os bailarinos vão executando movimentos que crescem junto com o andamento da música. Corpos que exibem músculos e delicadezas como se estivessem no Olimpo grego. Coreografias sincronizadas que depois se dispersam em solos improvisados de cada bailarino.

Segundo momento. Ouve-se a voz do ator Auro Juriciê narrando um texto poético. “O vazio não está vazio. Não somos livres. Somos cárceres do desejo. Prisioneiros de si mesmo. O homem está condenado a viver em cárcere”. Aos poucos os bailarinos iniciam movimentos inquietos, com corpos que se esbarram, outros que tentam se tocar, alguns que rastreiam com os pés o melhor terreno, com desconfiança, outros que, por fim, se libertam ao prazer do desejo e a intensidade do afeto.

Terceiro momento. Ouve-se o texto, “a liberdade da mariposa fica presa à luz”. Som de trânsito e de acidente. Um corpo é carregado. A coreografia revela tensões, pressa, conflitos. A luta provocada pela raiva, pela perda. Dois bailarinos simulam a dança entre dois manequins. Metáfora da marionete humana. Somos conduzidos pela vontade do outro.

Quarto momento. Som de máquina de datilografia. Três casais no palco. Os movimentos descrevem a escrita de três relações com coreografias que expressam a atração intensa e repulsão, os desejos humanos. Ouve-se ao piano “Clair de Lune”, de Debussy. Os movimentos vão diminuindo. Sensações como solidão, separação, submissão, apego e vontade do outro. A tentativa da reconciliação. A passionalidade dos afetos.

Após a apresentação da Cia. Pulsar, o público se depara com dois corpos nus no hall de entrada do teatro. Deitados e dispostos em direção contrária, como se simbolizassem a oposição masculino x feminino, os arquétipos de gênero que se complementam, seus corpos tornaram-se o caderno de assinaturas do público. Timidamente, as pessoas assinavam nomes e outras palavras. Os corpos dos dois performers da Companhia Núcleo Atmosfera de Dança e Teatro foram aos poucos se tornando suporte de mensagens das necessidades subjetivas de cada um. Entre nomes e frases, as palavras “amor”, “poesia”, “arte” e “atitude”, grafadas nos corpos dos dois, pareciam revelar as urgências coletivas de todos nós.


8ª Aldeia Sesc

A 8ª Aldeia Guajajara de Artes segue até o dia 1º de novembro, em São Luís. Nas cidades de Itapecuru e Caxias, a programação acontece de 03 a 09 de novembro, com oficinas, espetáculos teatrais e shows. A mostra é gratuita, mas o público pode colaborar com o Programa Mesa Brasil do Sesc, que complementa milhares de refeições de crianças e adolescentes de São Luís e Caxias, doando 1 kg de alimento não-perecível nas bilheterias dos teatros.

O objetivo do evento é difundir a cultura brasileira e o talento da produção local nas mais diversas linguagens, trazendo espetáculos de circulação nacional e promover a formação de plateia. Este ano o evento passou a se chamar Aldeia, que são as mostras de arte e cultura organizadas pelos Departamentos Regionais do Sesc visando fortalecer os laços comunitários de artistas, espectadores e produtores, buscando inovar e diversificar o circuito cultural brasileiro.

Programação completa e mais informações
(98) 3216 3800 / (98) 3216 3886 / (98)88711079