31 de out. de 2012

Espetáculos teatrais maranhenses emocionam público da Mostra SESC Guajajara de Artes

Mais uma vez o teatro maranhense ganhou os aplausos do público que compareceu à programação da VII Mostra SESC Guajajara de Artes, na noite de terça (30), para assistir às peças Ana do Maranhão, do grupo Abluir, e Enquanto Shakeaspere não vem, do grupo Cordão de Teatro. Os dois espetáculos revelaram o bom momento que vem tendo a produção teatral no Maranhão.


A montagem do Grupo Abluir contou a história de uma das mulheres mais importantes da História do Maranhão, para além do imaginário lendário e mitológico da personagem. No texto da escritora Lenita de Sá, a peça vai desconstruindo os aspectos do mito para apresentar a pessoa humana da mulher Ana Jansen, num passeio pela sua vida política e pessoal.

Além do livro de Lenita de Sá, diversos estudos, pesquisas acadêmicas e artigos historiográficos serviram de fundamento para a construção da peça, dirigida pela atriz Cássia Pires, que pretendia ser o mais fiel à persona de Ana Jansen. O resultado é um espetáculo que apresenta uma mulher à frente do seu tempo, num período histórico em que a elas eram negados direitos políticos e espaços sociais.

Não só Ana Jansen tem destaque na peça. Outros personagens históricos importantes, como o jornalista Sotero dos Reis, principal inimigo político da “Rainha do Maranhão”, ganha força na trama e evoca a memória de um dos principais literatos da cidade. Alguns personagens originais foram inseridos na trama para explorar com mais detalhes a vida pessoal de Donana, como a Dona Lindalva, uma vizinha fofoqueira; Romena, uma mucama amiga de Ana Jansen, e Afonso, apontado como o grande amor da protagonista. Por ser um ano eleitoral, a peça ganha novos sentidos e o texto acaba sendo atualizado na comparação da realidade política e social do contexto da época com os dias atuais.

Ao final da peça, o público inverte o medo que tinha da personagem lendária e fantasmagórica pela admiração à figura de uma mulher desafiadora e de forte representação política.


Ana do Maranhão tem músicas originais de Raimundo Reis e direção musical de Roberto Froes, figurino assinado por Leandro Lago, Raimundo Reis e Cássia Pires, e no elenco os atores Charles Melo, Leandro Lago, Luciano Teixeira, Marlon Aspin, Raimundo Reis, Roberto Froes e Cássia Pires.

Teatro do grotesco

Vindos da cidade de Açailândia, os atores Xico Cruz e Mikaell Carvalho, do Grupo Cordão de Teatro, apresentaram a peça Enquanto Shakespeare não vem, com texto e direção de Xico Cruz, no espaço da Tapete Criações Cênicas. O grupo, que desenvolve pesquisas teatrais de modo independente e sem um direcionamento acadêmico ou institucional, impressionou o público presente pela força do talento dos dois atores e pelo texto que traziam diversas referências das obras de William Shakespeare.

 
Na cena, os personagens Justus e Benigno estão num espaço qualquer à espera da chegada de Shakespeare, enquanto vão suportando a convivência entre si e desvelando seus conflitos e dramas pessoais numa relação de amor e ódio. Cheio de metalinguagens e multirreferências, vão aparecendo no texto alguns dos principais personagens do dramaturgo inglês, como Romeu e Julieta, Lady Macbeth, entre outros.

Nos diálogos, as tensões aparecem nas ambiguidades de uma relação vertical: Justus, como o ator que representa a virilidade, a opressão, o lado masculino, a força e a crueldade. Benigno, como o ator que é obrigado a representar os personagens femininos, subserviente, o oprimido e a delicadeza. Benigno obedece a todas as vontades de Justus porque o ama. Acredita na chegada de Shakespeare idealizada por Justus. Aos poucos, as representações vão se invertendo e sendo descontruídas até o final surpreendente.


O diretor resolveu aposta no teatro do grotesco para contar a história da relação desse par que remete a outros pares da literatura nacional e mundial, como Chicó e João Grilo (do romance O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna) e até mesmo Dom Quixote e Sancho Pança (do livro Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes), com cenografia minimalista e maquiagem carregada.

Ao final da peça, emocionados, os atores dedicaram o espetáculo ao ator maranhense Robson Diniz, que se suicidou há dois anos.

Texto: Alberto Junior (Ascom Mostra Sesc Guajajara da e Artes)
Fotos: Paulo Socha