12 de nov. de 2013

Poesias e rimas para mudar o mundo na Aldeia Sesc

Na quinta (31), a Cia. Direto da Fonte apresentou o espetáculo “Poemas para Che”. Na Praça Nauro Machado, a noite foi das rimas e poesias do rap e hip hop.


Já escreveu o poeta Ferreira Gullar que a poesia nasce do espanto, de alguma coisa que surpreenda e ainda não tenha descoberto na vida. Na 8ª Aldeia Sesc Guajajara de Artes, ela se manifestou em outras linguagens, pelas via das artes cênicas e das rimas do rap e do hip hop, na noite de quinta (31).

A relação entre luta e poesia foi o tema da peça “Poemas para Che”, apresentado no palco do Teatro João do Vale, às 18h30, pela Cia. Direto da Fonte, inspirado no caderno de anotações do guerrilheiro.

Quem começa a história é o personagem Dom Pedro Casaldáliga (bispo católico defensor da causa indígena no Brasil), interpretado pelo ator Domingos Tourinho, que vai contando a história de luta e poesia do líder da revolução cubana. O roteiro da peça é baseado nas informações encontradas no diário. Na montagem do diretor Charles Melo, as cenas não seguem fielmente as anotações do livro. Novas situações são criadas, com recriação de cenas de guerrilhas e de pessoas que ele encontrava no meio de sua trajetória obstinada.

Os textos do Caderno Verde de Che foram escritos entre novembro de 1966 e outubro de 1967. O espetáculo intercala os poemas preferidos do guerrilheiro, de autores como Pablo Neruda, Nicolás Guillén, César Vallejo e León Felipe, além de outros autores escolhidos pelo diretor, como Ferreira Gullar e Dom Pedro Casaldáliga. A peça consegue vincular a poesia com a luta armada, a luta de frente de homem com seus ideais e que não perdia a ternura, jamais.

Dona Derrisão

No palco do Teatro Alcione Nazareth, às 19h, a Petit Mort Teatro apresentou seu mais recente espetáculo, “Dona Derrisão”, inspirado em pessoas idosas, vítimas do Mal de Azheimer.

Músicas de Roberto Carlos e outras canções do tempo da Jovem Guarda vão conduzindo o espectador para a ambiência sonora de outras juventudes, de memórias que o rádio costuma alcançar. Em cena, Osvaldo, um velho que vai retomando e confundindo suas lembranças. Passado e presente se misturam em personagens que vão dialogando com ele.

A decadência é representada pelo artista que virou mendigo, Julio de Julio. A falta de memória de Osvaldo em relação ao artista evidencia o sentido de valor que tem a identidade dos sujeitos com suas autobiografias. Nas suas confusões de lembranças, o velho conversa com sua própria juventude. Suas ações são vistas pelos outros como um comportamento inadequado e irregular. A morte está sempre presente, à espreita, seja no próprio cenário (um ponto de ônibus com teto que lembram duas asas), seja em personagens em situações de coma ou quase-morte que conversam com Osvaldo.

A história ganha sentido quando se ouve ao fundo o depoimento real de pessoas que tiveram que lidar com vítimas de Alzheimer, suas reações, o comportamento e a confusão mental. O espetáculo chega ao lirismo de perceber a vida como um sopro leve de ventilador. Na canção do ator Nuno Lilah Lisboa, composta para o espetáculo, o espectador também busca em suas memórias radiofônicas as lembranças do tempo que se perdeu.

Cinema

Na Mostra CineMundi, dentro da programação da Aldeia Sesc, no Cine Praia Grande, foram exibidos os filmes canadenses O Vendedor (2011), às 18h, e Incêndios (2010), às 20h.

Hoje, às 18h, a mostra termina com a exibição do filme “Luíses – Solrealismo maranhense”, às 18h, uma produção local baseada na lenda da serpente e no cotidiano dos maranhenses.

Poesia pela mudança social em rap e hip hop

Às 20h, na Praça Nauro Machado, o DJ Alladin já executava sua discotecagem fazendo misturas de estilos e beats diversos.

Na sequência, o Plano Somma ganhou o palco, com muita atitude e vontade de som. Nas letras e rimas, espaços da cidade, situações e gírias de rua em refrãos rápidos e diretos, como “eu sou cabôco, eu sou; eu sou da mata, eu sou da mata” (caboco), que dialogam com as matrizes da cultura brasileira dos sambas de terreiro.

O Plano Somma é formado por DJ Juarez e os MC’s Felipeza e Maciel.

Em seguida foi a vez de Costelo e a banda T. A. Calibre 1 tocarem o repertório do celebrado disco “Balaio”, reconhecido por críticos como o melhor da cena maranhense a misturar hip hop com ritmos regionais. Na formação para o show, o grupo contou com o auxílio dos músicos Beto Pio (saxofone) e Hugo (baixo) e das cantoras Cris Campos e Fernanda nos vocais.

Eles contagiaram o público com sucessos como “lata d’água”, “a voz do morro”, “groove balaio”, “berô a beira mar”, “beats pesados” e “soldados da repressão”. A formação organizada para o show Groove Balaio mostrou que Costelo e sua turma continuam com bala na agulha das rimas e poesias, com ouvidos atentos à realidade social e mais musicais como sempre.

8ª Aldeia Sesc

A 8ª Aldeia Guajajara de Artes segue até hoje, 1º de novembro, em São Luís. Nas cidades de Itapecuru e Caxias, a programação acontece de 03 a 09 de novembro, com oficinas, espetáculos teatrais e shows. A mostra é gratuita, mas o público pode colaborar com o Programa Mesa Brasil do Sesc, que complementa milhares de refeições de crianças e adolescentes de São Luís e Caxias, doando 1 kg de alimento não-perecível nas bilheterias dos teatros.

O objetivo do evento é difundir a cultura brasileira e o talento da produção local nas mais diversas linguagens, trazendo espetáculos de circulação nacional e promover a formação de plateia. Este ano o evento passou a se chamar Aldeia, que são as mostras de arte e cultura organizadas pelos Departamentos Regionais do Sesc visando fortalecer os laços comunitários de artistas, espectadores e produtores, buscando inovar e diversificar o circuito cultural brasileiro.

Programação completa e mais informações

Email: aldeiasescguajajaradeartes@gmail.com
(98) 3216 3800 / (98) 3216 3886 / (98)88711079