28 de out. de 2010

O Deserto de Flávia Teixeira


Texto: Janice Lima

Num misto de estranheza e encanto, nesta terça-feira, 26, o espetáculo “Desertos”, parte da programação da V Mostra Sesc Guajajara de Arte, teve o seu diferencial, a começar pelo o público recepcionado pela atriz, seu canto e sua dança, na porta lateral do teatro Alcione Nazareth.

A sutileza daquela mulher prestes a agraciar a platéia com um monólogo fascinante foi encantando a cada um, antes de todos subirem ao palco, sim, todos! Inverteu-se a cena habitual de qualquer espetáculo cênico. Formou-se um grande círculo de cadeira em cima do palco, e logo abaixo uma platéia vazia, todos tornaram-se parte da apresentação.

O espetáculo começa a contar, antes que o espectador perceba, a história de uma mulher em conflito, dentro de seus Nordestes, mostrando ao público as inúmeras possibilidades da poesia, intercalando a formação da poetisa criadora da obra e o Recife, e a intérprete junto ao seu Maranhão.

A delicadeza imperou durante toda a representação. Uma caixinha cheia de objetos distribuídos pelo chão a cada ato, além de uma vela, um abajur, e as vestes digna de uma fada, eis a composição da peça. A partir daí, um jogo de claro e escuro era desenvolvido com dança, choro, grito, uma roda de emoções, com questionamentos, a proximidade com a platéia, a admiração por aquele texto forte e o trabalho corporal desenvolvido por ela.

Assim como começou, numa confusão sem muito sentido, se já era peça, se já estava a atuar, o que devia ser feito, e então, depois de palmas com dois dedos, o público mais uma vez sem entender muito bem, foi convidado a sair cantando e correndo, todos do lado de fora, e ela ainda a cantar e dançar. As portas laterais se fecharam dando adeus aos seus ‘grãos do deserto’. Esperando por mais uma aparição, o público agora bateu palmas de verdade,ovacionando-a.