Mais de 8 grupos artísticos saíram em
Cortejo até a Praça Nauro Machado. Show de abertura do evento teve a
participação do grupo Pedra Branca, de São Paulo.
A batida forte dos tambores do maracatu anunciava o começo da festa. Faunos romanos e ninfas gregas espalharam-se por entre as pessoas. Brincantes de grupos afros ensaiavam coreografias. Palhaços, malabaristas e dançarinos iam despertando sorrisos e olhares curiosos. Uma carroça fantástica atravessa a entrada do prédio do Sesc, na Praça Deodoro, trazendo a pequena atriz Violeta Amorim, 5 anos, representando a lendária personagem Ana Jansen. Funcionários do Sesc, artistas e promotores de cultura se juntaram ao grupo e formaram um grande cortejo que saiu pelas ruas do Centro de São Luís convidado a todos para a abertura da 8ª Aldeia Sesc Guajajara de Artes.
Quem
passava pelo local não resistia à alegria do grupo e se juntava à festa,
empolgados com os batuques e danças. Durante a passagem do cortejo, surgiam
comentários. “Quanto tempo não se via uma carruagem andando pelas ruas. Voltei
no tempo”, comentou a cabelereira Rita de Cássia.
A
rotina da movimentada Rua Grande, principal centro comercial da cidade, foi sendo
alterada com a passagem do cortejo. Funcionários de lojas, consumidores,
transeuntes e moradores dos prédios iam parando para ver o movimento. Alguns
até deixaram antecipadamente o expediente. “Todo ano a gente já sabe que o
cortejo vai passar. Eu acho tudo bonito. Dá uma alegria. Não dá pra ficar
dentro da loja. A gente para tudo e às vezes até sai um pouco mais cedo do trabalho”,
disse a comerciária Gleiciane Mota.
O
Cortejo Artístico foi conduzido pelos grupos Maratuque Upaon-Açu, Coletivo de
Artes Urbanas, Núcleo de Formação Attivitá, Núcleo Atmosfera, Grupo Cara de
Arte, Tambor de Crioula do Sesc e o Bloco Afro GDAM. O trajeto encerrou na
Praça Nauro Machado, onde os brincantes do grupo Bumba-meu-boi Unidos de Santa
Fé já aguardavam para apresentar o exuberante brilho de suas indumentárias e
ritmos.
Shows performáticos
Adornado
de keffiyeh (lenço palestino) improvisado, o DJ Jorge Choairy abriu os
trabalhos da noite com repertório que desterritorializou os ouvintes mais
atentos para as possibilidades de fusões culturais que a música pode
proporcionar. Baião de Luiz Gonzaga cantado em japonês por Keiko Ikuta, a
batida tecnobrega de Gaby Amarantos, o canto experimental da islandesa Björk, o
som antropofágico dos Mutantes foram preparando a trilha sonora para Aldeia
Sesc que, no tema deste ano, privilegia as expressões híbridas, a mistura de
linguagens artísticas.
Às
20h subiu ao palco o Coletivo Gororoba, formado pelos músicos Camila Boullosa (percussão,
vocal), Rodrigo Sencial (violão), Beto Pio (saxofone, vocal), Cris Campos
(voz), Hugo César (contrabaixo), Franklin Nazarus (bateria). Ao fundo, uma tela
exibia imagens e vídeos programados pela fotógrafa Carolina Libério.
Cada
música ia costurando a trama de uma história brasileira: o viajante Pedro
Malasartes, com seus sonhos, necessidades, desejos e luta pela sobrevivência no
país dos contrates sociais. “O quê que te alimenta?”. A pergunta foi lançada
feito verso pela banda e, aos poucos o público ia saciando seus desejos e
vontade de tudo com a música, performance, arte e poesia do Gororoba. No repertório,
canções que falavam de cidadania e desigualdade econômica, (“ei, quanto tempo
faz que você não olha, irmão, dinheiro? ei, quanto tempo faz que você não é um
cidadão? direitos!”, Na Contramão da Maré); a vida de Dona Maria, mulher
ribeirinha, sobreviventes do mangue (“a índia deságua no ventre raízes de todo
manguezal, silêncios em si, mil anos em mim”, Maria do Pote); a ludicidade de
quem preserva o olhar infantil para as coisas (“voa uma pipa no céu, boia
garrafa no mar, quem foi cair lá fui eu, na inconstância do olhar”, Pipa), que
fez até o pequeno Antônio Torres, de 3 anos, entrar na imaginação e ver pipas
no céu da noite de São Luís.
Depois
foi a vez da dupla paraense Strobo, formada pelos músicos Léo Charmont e Arthur
Kunz, apresentar som instrumental de linguagem pop. O som elétrico da guitarra
vai ganhando novas timbragens e recursos eletrônicos. Cada música é resultado
de pesquisa de elementos de vários gêneros que se aproximam. Assim, os riffs da
guitarra iam do rock ao carimbó, da cumbia ao dance music, sustentados pela
bateria e beats eletrônicos. O resultado é uma sonoridade pulsante que situa o
ouvinte em várias regiões urbanas, caribenhas e até mesmo virtuais, com músicas
que parecem trilhas sonoras de jogos eletrônicos.
(Coletivo Gororoba/MA)
(Strobo/PA)
Sonoridade multiétnica
Às
23 horas, um sexteto de músicos com instrumentos inusitados em shows de bandas
populares, como o sitar (tipo de guitarra oriental), o alaúde (instrumento de
cordas árabe), o didgeridu (espécie de berrante de aborígenes australianos), o teremim
(primeiro instrumento eletrônico, inventado em 1920), além de percussões
africanas e brasileiras, foram tomando o palco da Praça Nauro Machado para
trazer a São Luís a musicalidade das aldeias de outras partes do mundo.
O
grupo paulista formado pelos músicos Luciano Sallun, Aquiles Ghirelli, Daniel
Puerto Rico, Ana Colomar, Ruy Rascassi e Ricardo Mingardi foi o convidado
especial da abertura da 8ª Aldeia Sesc porque sintetiza a proposta temática que
norteia a programação do evento: “Multilinguagens e híbridas expressões na
contemporaneidade”. Por quase uma hora e meia, a Pedra Branca apresentou um
mosaico de composições do mais recente álbum, “Radio Global” de 2011, que
demorou dois anos para se concluído.
A convergência
de diferentes instrumentos e vertentes musicais situados no amplo campo sonoro
da chamada “world music” não confunde o ouvinte. A intenção é deslocar as experiências
sonoras de cada pessoa para a música de outras partes do mundo, especialmente a
música asiática, africana e oriental.
O
show contou também com a participação da bailarina Laíz Latenek em dois
momentos. No primeiro, uma performance inspirada em mitologia do Turcomenistão.
A história de um sol enterrado que levou vários vestígios de outras
civilizações. No figurino, adornos e peças colhidas em viagens que a bailarina
fez para lugares como Londres, Bulgária, Índia, entre outros. Num segundo
momento, a apresentação de um intenso movimento, a partir de danças das regiões
do Oriente Médio e Ásia Meridional, uma performance sensual, que despejava flores
e vigor no palco.
A
mistura de linguagens, como a dança, a música e a linguagem visual fazem parte
da proposta do grupo buscam proporcionar uma experiência multimidiática em cada
show que não se limita somente ao palco. Entre uma música e outra, no meio da
praça, alguns artistas de rua entraram no clima e, espontaneamente, resolveram
apresentar suas performances pessoais, como um cuspidor de fogo que lançou
chamas ao céu e outro que fez uma dança com uso de bolas e malabares.
Quem
pode conferir o show, viu um espetáculo de sonoridades globais, já que o grupo
se vale do que vem de fora para tocar música brasileira e usa instrumentos
nacionais para executar ritmos indianos, jazz e de outros locais do mundo.
A
Aldeia Sesc foi formada e a programação segue em frente com mais oito dias de
intensas atividades culturais.
8ª Aldeia Sesc
A
8ª Aldeia segue até o dia 1º de novembro, em São Luís. Nas cidades de Itapecuru
e Caxias, a programação acontece de 03 a 09 de novembro, com oficinas,
espetáculos teatrais e shows. A mostra é gratuita, mas o público pode colaborar
com o Programa Mesa Brasil do Sesc, que complementa milhares de refeições de
crianças e adolescentes de São Luís e Caxias, doando 1 kg de alimento
não-perecível nas bilheterias dos teatros.
O
objetivo do evento é difundir a cultura brasileira e o talento da produção
local nas mais diversas linguagens, trazendo espetáculos de circulação nacional
e promover a formação de plateia. Este ano o evento passou a se chamar Aldeia,
que são as mostras de arte e cultura organizadas pelos Departamentos Regionais
do Sesc visando fortalecer os laços comunitários de artistas, espectadores e
produtores, buscando inovar e diversificar o circuito cultural brasileiro.
Programação completa e mais
informações
(98)
3216 3800 / (98) 3216 3886 / (98)88711079
Texto: Alberto Júnior
Fotos: Daniel Sena e Rosana Barros
Texto: Alberto Júnior
Fotos: Daniel Sena e Rosana Barros