Inaugurado este ano, o Teatro Cidade de São Luís
(antigo Cine Roxy) tornou-se palco para o show glamoroso da cantora Tássia
Campos, durante a programação da VII Mostra SESC Guajajara de Artes, na noite
de sábado (27). Acompanhada dos músicos, Edinho Bastos (guitarra), Jesiel Bives
(teclado), João Paulo (baixo) e Moisés Mota (bateria) e DJ Franklin
(programação eletrônica), a cantora apresentou um repertório de canções dos
seus últimos shows em tributo aos Novos Baianos e Sérgio Sampaio, bem como algumas
canções inéditas que estarão no seu primeiro disco.
Após uma sequência de música brasileira e mundial
saída das pick-ups do DJ Franklin, ela entrou desafiadora, sem saudar o
público, cantando em inglês, com voz rouca e encorpada, experimentando
sonoridades em dub e arranjos que misturavam o som eletrônico do DJ com a base
jazzística dos músicos. O visual do palco nos transportava para o melhor das
casas noturnas de jazz, com luz soturna que dava textura ao clima noir pela fumaça que saía do gelo seco junto
com o veludo da cortina vermelha atrás dos músicos. De vestido longo e flor na
cabeça, Tássia lembrava o visual de cantoras como Billie Holiday e Ella Fitzgerald,
talvez uma homenagem ali explícita, como ícones musicais.
As canções do repertório escolhido por Tássia
pareciam ir traduzindo a persona da
própria cantora, que nos últimos dias se envolveu em discursos polêmicos com
outros músicos nas redes sociais e que tem assumido uma postura opinativa sobre
a música feita pelos artistas maranhenses e sobre aquilo que lhe representa,
nem sempre em tom de delicadeza.
E toda essa perspectiva ariana, de quem gosta de
comprar briga, acaba se tornando o impulso criativo para seu trabalho como
cantora, da artista que se fortalece no conflito, seja pessoal, seja nas
relações com seus pares.
Nos versos de A
menina dança (Novos Baianos), está lá o nariz arrebitado da menina que
entra no jogo e não leva desaforo pra casa quando tudo está virado; nos versos
de Que Loucura (Sérgio Sampaio), está
a figura que ficou maluco da ideia guiando o carro na contramão, até chegar a se
revelar em composição autoral, Persona
non grata parceria dela com Celso Borges, quando cantou os versos “Eu disse
quase tudo, eu quase não disse nada, disso que sou feito, nem leite, nem nata,
persona non grata. Esse é o meu futuro, o ouro de que acumulo. O verbo puro, o
salto por cima do muro”.
Durante o show, a palavra poética ganhou força na
performance da cantora, que em determinado saiu do palco e deixou apenas a voz
mixada com as incursões eletrônicas do DJ Franklin para dizer: “só vou deixar
meu coração, a alma do meu corpo, para quem pode. (...) eu não tô à toa, eu sou
muito boa”.
A certeza de si como intérprete ficou evidente nas
releituras de canções com registros marcantes, como Is This Love (Bob Marley), A
Rã (João Donato) e Summertime
(George Gerswin), como também no registro dela para Intervalo (André Lucap), que estava na plateia e pra quem ela disse
ter roubado a música pra si, e Logradouro
(kléber Albuquerque), com a qual ganhou o prêmio de artista revelação da Rádio
Universidade FM.
Tássia dedicou a canção Punk da Periferia (Gilberto Gil) para o mestre Leonardo, do
Bumba-meu-boi da Liberdade, com quem conviveu de perto e a quem tratava como
avô a quem nutria um carinho especial e admiração pela opção e missa de vida em
prol da cultura popular.
Ao final, cantou com vigor e volúpia a canção Pacto com Baco (Eugênio Dale), celebrando
o prazer dionisíaco e subvertendo a ordem estabelecida pela lei seca de não
consumir bebida alcoólica, pra fazer o que lhe dá vontade, no palco e fora dele
também.
Foi um show envolvente, moderno e visualmente
bonito. Tássia Campos mostrou que, de São Luís, pode-se também estar conectados
com o que há de mais contemporâneo na música produzida no Brasil, representada
por outras cantoras semelhantes na intenção estética, como Céu, Cibelle, Nina
Becker, entre outras.verbo puro, o
salto por cima do muro". leite, nem
nata, persona non grata.
A programação da VII Mostra SESC Guajajara de Artes
segue até o dia 1° de novembro.
Texto: Alberto Jr. (Ascom Mostra Sesc Guajajara de Artes)
Fotos: Taciano Brito