O rock
deu o tom no segundo dia da programação musical da VII Mostra SESC Guajajara de
Artes. Na Praça Nauro Machado, jovens vestidos de preto, com maquiagens
carregadas e inspiradas em filmes de terror se juntaram ao habitual público que
frequenta as noites de sexta no Centro Histórico para ouvir o som das bandas
Megazines (MA) e Kaoll (SP).
(Banda
Megazines | Fotos: Taciano Brito)
Entre
eles, algumas figuras mais excêntricas, como um rapaz que resolveu fazer de uma
caixa de papelão a sua máscara de expressão e o artista Mondego que, do alto da
escadaria da praça, permanecia concentrado em sua liturgia espiritual
particular sentado diante de um castiçal feito com uma garrafa de plástico com
uma vela dentro.
Dentro
do camarim, a expectativa também era grande entre as duas bandas. Para os
integrantes da Megazines, a Mostra é uma vitrine importante para os artistas da
cena local porque o evento já tem um público cativo e interessado nas diversas
linguagens, além de proporcionar o contato com artistas convidados de outros
estados.
Para os
integrantes da Kaoll, que já estiveram em outros eventos culturais do SESC em
outros estados, a expectativa era, sobretudo, em relação ao público nordestino
que para eles é sempre muito caloroso. “Já fizemos alguns shows em outras
cidades do Nordeste, mas vir a São Luís tinha um sabor especial. Pedimos pra
vir um dia antes para poder aproveitar um pouco da cultura da cidade e
conferimos os shows da noite de abertura da Mostra. Ficamos empolgados com a
receptividade do público para com o artista”, disse Bruno Moscatiello,
vocalista da banda.
Por
volta das dez da noite, subiu ao palco a banda Megazines. Os riffs de guitarra e a bateria vibrante
foram chamando o público pra perto do palco. A banda, que mistura subgêneros do
rock com grunge, punk e até mesmo blues, foi provocando a reação intempestiva
em parte do público mais jovem para a prática da conhecida roda punk, comum em
shows do gênero.
No
repertório do show, canções como Swallow,
Leave me alone, Hole in the desert e Scarface,
além de duas novas músicas Cash for life e
Velttenz is play in my house que
compõe o ultimo EP da banda fizeram todos vibrarem. Segundo Ronaldo Lisboa,
vocalista da Megazines, eles preferem compor em inglês por conta da sonoridade
da língua e porque acham mais simples o encaixe das letras nas melodias. Ele
contou também que estão em processo de composição das músicas para o CD que
pretendem lançar no próximo ano.
“Todo
nosso processo de compor é coletivo, negociado em conjunto. Às vezes, eu dou a
ideia da letra, o Emanuel sugere a melodia e os outros integrantes vão dando
suas sugestões também. Talvez pelo fato das nossas influências musicais serem
de bandas como Queens of the Stone Age,
Muse e Stone Temple Pilots, seja
mais fácil compor em inglês. Agora estamos em processo de fechar repertório
para o novo CD”, justificou Ronaldo.
Psicodelia em som instrumental
(Banda
Kaoll | Fotos: Taciano Brito)
Aos poucos
um novo público foi sendo aglutinado com a chegada de outra geração de
roqueiros, fãs da banda Pink Floyd, que se juntaram aos já presente na Nauro
Machado, e uma nova ambiência sonora foi se formando, quando os músicos da
banda Kaoll começaram a sequência de canções da discografia da banda inglesa.
O grupo
surpreendeu o público com o desafio de reinventar as canções de uma das bandas
mais conhecidas do rock mundial. E a proposta de fazer um som instrumental, sem
o vocal, possibilitou o jogo lúdico de fruir cada canção, exercitando os
ouvidos mais atentos para quem conhece toda a discografia da banda. No palco,
os músicos alternavam entre si a manutenção da linha melódica das músicas para
que elas fossem ampliadas com novas sonoridades e ritmos. Jazz, bossa e muitos
arranjos progressivos foram dando novos sentidos para as canções.
Alguns
fãs da banda Pink Floyd se sentiram frustrados, esperando que o show fosse um
cover do grupo inglês. Esta não foi a intenção da Kaoll, como explicou Bruno
Moscatiello: “O show é um tributo, mas não quer dizer uma cópia fiel ao som dos
discos, porque somos uma banda autoral, temos dois discos já gravados. As
versões instrumentais também são nossa maneira de fazer as releituras das
canções, com uma pitada de todas as influências sonoras que temos enquanto
músicos”, explicou o vocalista.
O show
acaba não se limitando apenas ao repertório da Pink Floyd. A Kaoll apresentou
também algumas músicas do disco anterior Auto
Hipnose (2010), que contou com a colaboração do lendário guitarrista
tropicalista Lanny Gordin. Entre os arranjos, podia-se perceber também a
influência de outras bandas brasileiras importantes do rock progressivo e
psicodélico da década de 70, como a Som Imaginário, O Terço, Joelho de Porco,
entre outras.
O ápice
do show foi quando a banda entoou os primeiros acordes de Wish You Were Here e todos foram ao delírio, em coro, comprovando
que a atemporalidade das canções da Pink Floyd e a força que elas têm na
memória dos fãs e ouvintes da banda.
A VII
Mostra Sesc Guajajara de Artes prossegue até o dia 1º de novembro, com vasta
programação cultural em diversos pontos da cidade. Para mais informações,
acesse o blog do evento www.mostrasescguajajaradeartes.blogspot.com.br