31 de out. de 2012

Companhia maranhense apresenta a peça O Mulato na Mostra Guajajara em montagem conceitual


O público lotou o Teatro João do Vale na noite de segunda (29) para prestigiar a peça O Mulato, da Companhia Drao Teatro da (In) Constância, dentro da programação da VII Mostra SESC Guajajara de Artes. Com quase duas horas de duração, a adaptação do livro do escritor maranhense Aluísio Azevedo atraiu um grande número de jovens para ver a história de amor entre Raimundo e Ana Rosa, entre os conflitos sociais da época. A obra marca o início da prosa naturalista na literatura brasileira.

A companhia, sob direção do teatrólogo Ivaldo Júnior, optou por uma linguagem contemporânea na montagem, com o uso de metalinguagens no palco, mesclando a narrativa do texto com apontamentos biográficos sobre o escritor Aluísio Azevedo. A todo instante, o público era confrontado com trechos do romance, ampliados com o contexto da época em que o escritor escreveu o livro. O jogo de cena era demarcado com o uso cenográfico de um labirinto de barras de metal e pela iluminação focada na ação. Todo o processo de troca de figurino, discussão sobre detalhes da apresentação e preparação de maquiagem acontecia no palco, ao mesmo tempo do desenrolar das cenas.

Narrativa com forte crítica social


O Mulato conta a história de Raimundo, que sai ainda criança de São Luís para Lisboa, sem saber do seu passado e de sua história. Anos mais tarde, volta à cidade natal como rico e virtuoso advogado e com o intuito de desvendar os mistérios de seu passado. Ele logo cai nas graças de sua prima Ana Rosa, que arrebatada, declara-lhe seu amor, mas os dois encontram fortes obstáculos.

O texto de Aluísio Azevedo faz uma sátira a personagens típicos de São Luís, em 1881, já Província do Maranhão. Comerciantes grosseiros, sádicas senhoras de escravos, velhas beatas e fofoqueiras, um padre maquiavélico e inescrupuloso vão ambientando uma sociedade racista, tendo como intriga o amor romântico do mulato (moralmente impecável) para com a prima branca, na luta contra o preconceito e as proibições familiares.


Durante o desenrolar da narrativa, o público foi se empolgando com algumas atuações pelo tom mais caricatural de alguns atores, como o personagem do padre Diogo, representado pelo jovem Raphael Brito, que rouba a cena pra si. Além da iluminação e cenografia, a trilha sonora também é feita de interferências em cena, com o uso de instrumentos de percussão e um tambor-onça, que demarcando a tensionalidade da narrativa.


Mais espetáculos teatrais estão na programação da VII Mostra SESC Guajajara de Artes, que segue até o dia 1º de novembro.

Fotos: Paulo Socha