25 de out. de 2014

Emoções diversas e profundas

DO BLOGUE DE ZEMA RIBEIRO
FOTO: DANIEL SENA



Silvero está sozinho no palco. Quase só. Um músico ao piano o acompanha. Ele canta e dança. De repente despe o vestido vermelho e escreve no próprio corpo. Seu nome. Gisele. Uma personagem que surgiu e que hoje ele mesmo não se sabe onde termina o ator e começa a personagem. Ambos fundem-se num só corpo.

O ator conta a história de Gisele e de vários outros travestis, transexuais e transformistas. BR Trans, monólogo da companhia cearense As Travestidas, equilibra-se numa linha tênue entre o bom humor e a desgraça. O espetáculo, vencedor do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga 2014, é dirigido por Jezebel De Carli e encenado pelo ator Silvero Pereira, que também assina cenário, figurino, maquiagem e adereços – do palco, ele mesmo opera a luz.

Sem perder a graça e o rebolado, aponta para questões latentes de nosso cotidiano, como o universo LGBT, a homofobia e a necessidade de combatê-la, dentro e fora de sua própria casa, a ineficiência do sistema educacional, e da sociedade em geral, em lidar com “o diferente” e a impunidade quase geral para crimes de motivação homofóbica.

BR Trans lida com o desconhecido: o “medo” que a sociedade tem de corpos parados nas esquinas escuras da noite é o medo que lhes domina cotidianamente: medo da violência, da intolerância, da morte. Tudo isso envolto em uma atmosfera de pura arte, beleza e poesia. Sublime, BR Trans desperta risos e lágrimas na plateia.