29 de out. de 2012

Espetáculo infantil apresenta o universo lúdico das memórias de infância de Tarsila do Amaral




“Vila Tarsila” foi pensado e produzido para as crianças, mas o que se viu no palco do Teatro Arthur Azevedo, na tarde de sábado (27), foi um espetáculo de multilinguagens que fizeram transportar o público de todas as idades no imaginário das experiências visuais e antropofágicas da pintora Tarsila do Amaral.

Dirigido pela coreógrafa e bailarina Miriam Druwe, em parceria com Cristiane Paoli Quito, a ideia de criar o espetáculo sobre as memórias de infância da pintora surgiu após uma crise alérgica da diretora. “Eu sou muito inquieta, sempre vivi de dança, e foi a partir de uma crise alérgica, que me deixou parada em casa por um tempo, que veio a vontade de montar esse espetáculo junto com a companhia”, disse Miriam.

Há cinco anos direcionando seus espetáculos para o público infantil, Miriam Druwe conta que trabalhar para as crianças é um privilégio e um desafio. Ela tem um filho pequeno, que acaba tendo a função crítica de primeiro diretor de seus projetos. “A maioria dos movimentos, como a cena dos balões, por exemplo, são resultados de observações feitas com o olhar do meu filho e outras crianças. Essa coisa encantada e festiva com que eles interagem com os balões, absorvendo a leveza, as cores, o movimento e o som do estouro, tudo isso acaba sendo um mote criativo para a elaboração de algumas coreografias”, explica a diretora.

Durante a apresentação, as reações das crianças são sempre inesperadas e cheias de expectativas. Elas vão absorvendo o enredo das memórias da pintora e o sentido das obras pelo processo lúdico, tendo a dança, alguns diálogos, o figurino e a trilha sonora, como principais dispositivos para a fruição do processo criativo de Tarsila do Amaral. “Achei muito lindo o espetáculo, a forma como eles conseguem expressar com o corpo os movimentos que as pinturas têm, parece que a gente entra na tela”, disse Namari de Paula, de 12 anos

O que poderia parecer conceitual demais, como é comum na maioria dos espetáculos de dança contemporânea, torna-se leve e de fácil assimilação pelo público presente, do sentido que cada coreografia quer apresentar, tendo sempre alguma obra da pintora numa grande tela projetada ao fundo do palco.

As ideias antropofágicas da pintora aparecem em cenas divertidas durante o espetáculo, como na aula de etiqueta, na qual a menina Tarsila brinca com o sentido das palavras rimando o nome de comidas francesas com sua preferência pelos pratos brasileiros. E também quando a protagonista canta uma paródia de Carmem Miranda, “Disseram que eu voltei afrancesada”, amarrando muito bem o sentido da artista que tinha sido educada nos padrões da cultura francesa, mas que tinha a cultura brasileira como sua principal inspiração artística.

O Abaporu, sua obra mais representativa, surge em vários momentos, numa projeção de tela, numa coreografia com os bailarinos usando um figurino com enormes mãos e pés, e até um boneco gigante de pano entra no palco provocando o espanto e admiração de todos. Outras obras, como “Operários”, “Cuca”, “Manacá”, “O Touro” vão aparecendo, nem sempre como projeções na tela, mas representado em coreografia, figurino ou performances.

Paisagens interioranas e metropolitanas se misturam nas diversas viagens de Tarsila pelo interior do Brasil e pelo mundo, de Sabará a Paris, e vão dando ao espectador, por meio de movimentos, cores e sons, uma melhor compreensão até mesmo das intenções estéticas do modernismo brasileiro, que tem na obra da pintora uma das principais referências.

Após a apresentação, os bailarinos bateram um papo com o público para falar sobre o processo de criação coletivo e para captar a recepção das crianças sobre o espetáculo. O próximo trabalho da companhia, já em fase de pesquisa e preparação, será sobre as obras do pintor Van Gogh.

Além da apresentação do espetáculo “Vila Tarsila”, os integrantes da Companhia Druwe também estão na programação da Mostra SESC Guajajara de Artes ministrando a oficina “Dança Contemporânea – Expansão do Movimento”, direcionada a atores e estudante de teatro, no Centro de Artes do Maranhão (CACEM).

A programação da Mostra segue até o dia 1° de novembro.






Texto: Alberto Jr (Ascom Mostra Sesc Guajajara de Artes)
Fotos: Paulo Socha