25 de out. de 2010

Psicose 4h48




Distúrbios psicóticos dominam o teatro Alcione Nazaré


Texto: Janice Lima

Olhos vidrados e um clima de suspense refletem o estado do público, que lotou o teatro Alcione Nazareth nesse último domingo, 24, e foi tomado pela peça “psicose 4h48” parte do projeto Palco Giratório e da programação da V Mostra SESC Guajajara de Artes.

A peça possui uma trilha sonora marcante que já domina o espectador ao entrar na sala, prestes a apreciar um espetáculo intimista onde o verdadeiro cenário é a mente, e consciência dos personagens o protagonista. Marcado por uma carga emocional surpreendente, transmitida pela força do texto, enriquecido mais ainda com e atuação dos atores: Rosana Stavis e Marcelo Bagnara, que conduziram a platéia ao interior de uma mente psicótica, através monólogos e parte de um diálogo que parece ser entre médico e paciente.

Para o ator e estudante de história Luís Ferreira, 18 anos, a trilha do espetáculo, de tão intensa, chega a causar desconforto: “a peça incomoda muito, a trilha é muito forte, acho que por isso as pessoas não se sintam tão bem com o espetáculo, mas a proposta é muito interessante, mexe com o psicológico, é importante conhecer todo o texto para poder interagir, além do trabalho de corpo dos atores que foi fenomenal. O SESC deveria ampliar o projeto, já participei, sei como funciona, seria muito bom para o nosso estado, interagir com outros espetáculos, esse intercâmbio com outras companhias é muito bom”.

Já para o estudante de direito, Gerardo Lima, 21, o espetáculo traduz de certa forma o ritmo da sociedade atual: “os atores conseguiram transmitir todos os conflitos internos que rondam uma pessoa com transtorno mental, o que muitas vezes culmina em suicídio. Em meio à modernidade dos dias atuais esquecemos que somos humanos e não máquinas, a peça passa um pouco dessa vida tumultuada que nos aflige tanto, dos padrões que somos obrigados a seguir. O espetáculo foi incrível, o ponto alto da noite foi o vídeo com dados sobre suicídio aliado aquela trilha chocante”.

Ao final do espetáculo Rosana Stravis e o diretor da companhia, Marcos Damaceno, participaram de um debate sobre a peça, dando espaço para o esclarecimento das dúvidas e considerações do público. Indagado sobre os textos, Marcos Damaceno esclareceu: “a maioria dos textos da companhia são meus, ou próximos ao meu pensamento, eu sinto esse texto na pele, saindo pelos meus poros. Esse tema chega até as pessoas, em qualquer localidade, vai ser sempre um texto atual, o nosso objetivo é que o espectador fique na mesma pulsação dos atores, nessa 1h15 de peça. Gosto de teatro próximo, de sentir a respiração, por isso escolhemos lugares pequenos. Treinamos cada palavra, o tom , a velocidade, a intenção correta para cada momento, uma pontuação errada pode comprometer nosso trabalho”.